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escritos

pensar

campo de cultivo

coração

*

nem monocultura, nem agrofloresta

coração é selva

*

epistemologias

desencarnadas

não dão conta de

corpos vivos

*

o desejo cartesiano

não tem entranhas

*

o corpo

pensa

pelos

poros

*

trocas de ambientes

exigem

trocas de paradigmas

 

*

para um coração saudável

lógica é repressão

(na ordenação caótica do mundo

toda liberdade organizada é coercitiva)


*

no subterrâneo, no escuro do avesso

algo luminoso se desdobra

e silenciosamente

perdura

(interestação outono-inverno

do ano do búfalo de metal)

*

 

o outono me pega pelo avesso

e enquanto me esfola os

condicionamentos

arregala minhas pálpebras e diz:                     

 

"olha!"

(interestação outono-inverno

do ano do dragão de madeida)

*

a cidade verdegestando

fetos de frutos

e o poente das amendoeiras lentas

que se despem demoradas de inverno

(interestação inverno-primavera 

do ano do dragão de madeira)

*

tocar as coisas

com o mentolado dos olhos

refresca o mundo

(primavera

do ano do dragão de madeira)

*

jamais lutar

pelo que não é meu

lutar menos ainda

pelo que é

(interestação primavera-verão

do ano do dragão de madeira)

*

na intimidade da terra

o que parece repouso

é intensidade

*

as flores

são palácios

temporários

*

sustentar uma palavra

no vão vazio

até que tenha força

de dizer

*

recarregar o arrepio da palavra,

uma zarabatana

*

quanto mais indefinido

maior o desejo de forma

o desejo de forma tem pressa

o indefinido não

*

entre os expressos e os latentes

há uma violência infinita

*

alguma coisa que atravessa fino

o que impregna o hiper dissolvido

e o entranha

aquilo que não se nomeia

por ainda não haver nascido

o que se esconde na luz sendo luz

o que volta ao eixo

quando desencaixa

o que incita como faísca

e o que não inflama

 

as coisas que circulam

sua textura por dentro

 

o que se reflete no avesso dos olhos

o que não amolece em vigília

aquilo que se desfaz

por entre os interstícios

e o que volta a ser denso

depois de desfeito

(rede de animação)

*

o tempo esculpe o corpo

enquanto ele digere

as intempéries que moldaram a maçã

*

a realidade perfura

fundo

os anestesiados

& os que travam 

ou afrouxam demais 

seus poros

no ir e vir neon

do mundo

sentir é duro, mas ilimitado

é quando a vida aprofunda 

em gotejamento

*

desvio também é caminho

*

nascer também é migrar

*

"sendo entranhas         não olhos

 afasta o ali                    agarra o aqui"

(laozi)

*

"no intercultivo cósmico do mundo

todo ser é

jardineiro e jardim"

(nada é selvagem - Coccia)

*

"o corpo é uma lâmina

que se afia cortando"

(Ocean Vuong )

*

"o esforço em não forçar

para favorecer o favorável"

(Moy Yat  梅 逸)

*

"deus é grande mas o mato é maior"

(provérbio do cangaço)

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NOGUCHI, Hiroyuki 1993 無 断 転 載 を 禁 ず

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